segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Olá, posso ajudar?

Certo dia conversando com um conhecido fui questionado da seguinte forma:

“Na medida do possível está tudo bem. Mas, porque eu ainda sinto que tenho algum problema e que não está tudo bem?”

A pessoa tem um emprego, tem onde morar, acesso à educação, boa saúde, tem o que comer e mesmo que não tenha tudo que quer, tem aquilo que precisa para viver. Ainda assim, sente aquele incômodo, aquela sensação que está no caminho errado, que a vida está sendo vivida sem sentido e começa a pensar que deveria mudar a situação atual. _Será que deveria sair do meu emprego? _Será que deveria arranjar outra namorada? _Trocar o carro? _Comprar um celular novo? Alguma coisa tem que mudar...

Então eu disse que lamento informar, mas talvez isso não funcione. Eu particularmente acredito que nem o consumismo, nem a rotatividade de empregos, ou a troca constante de parceiras vão trazer o que você está procurando. Vejo que alguns procuram amparo no desapego, no isolamento, ou nas drogas, mas não é preciso desapegar de tudo que construímos até agora, se isolar na floresta como fez Thoreau ou se afundar nas drogas pra abrir a mente e viver melhor consigo mesmo. Se preferir fazer isso, ou então tocar o “foda-se”, faça! Mas, saiba voltar e colocar os pés no chão.

Todavia, tenho uma dica: Que tal você resolver os problemas de outras pessoas?

Eu acredito de coração, que se o ser humano exercitar a empatia e o altruísmo nós teremos uma sociedade muito melhor. E não é preciso esperar ter uma doença mortal, ou ter problemas ainda maiores pra começar a tentar se “redimir” com o mundo fazendo caridade. Durante todo o dia temos a oportunidade de ajudar o outro, seja em casa, no trabalho, na faculdade ou nas ruas. Você pode dizer que está muito ocupado e isso o impede que faça qualquer coisa em prol das outras pessoas, pois não dá conta de cuidar nem de si mesmo. É compreensível, pois muitos acham que ajudar ao próximo é apenas ser voluntário em projetos sociais, ong’s, igreja ou fazer doações. Sim, essas também são boas formas de exercitar sua empatia e altruísmo. Porém, o que custa incrementar pequenas atitudes no dia a dia? Por exemplo, você pode parar um ônibus ao ver que alguém está vindo correndo na direção e dar sinal para o motorista parar enquanto a pessoa não chega. Pode ajudar alguém a carregar a mala pra subir as escadas do metrô. Pode ajudar dando dicas ao vendedor de pipoca com os conceitos aprendidos naquela aula de marketing. Oferecer uma consultoria tributária gratuita àquele tio que não tem conseguido quitar os impostos. Pode se oferecer pra pegar no gol para o time da empresa (goleiro também tem o seu valor). Oferecer uma carona para um amigo em comum que você soube que mora perto da sua casa e volta de bus todo dia. Ou quem sabe oferecer um prato de comida pra criança que passou no restaurante perto da firma pedindo esmola?

Um dia virei pra um garoto e falei: _Dinheiro não vou poder te dar, mas senta ai moleque, vou pedir o garçom pra trazer um prato pra você também. Ele podia morrer de fome hoje e eu com saldo no vale refeição juntando pra comer fim de semana no Outback. Mesmo que eu ganhava mal, naquele momento podia oferecer aquilo pra ele pois apesar de tudo minha situação ainda era mil vezes melhor financeiramente do que a do menino. Teve época que tudo que eu queria era comer em uma churrascaria, poder oferecer isso pra alguém foi o ápice da minha semana. A refeição teve valor, mas o valor da mensagem que passei foi intrínseco. O mesmo fez um professor universitário que me deu carona no Rio Grande do Sul em uma viagem recente. Ele me pagou um lanche, contou tudo sobre pedras preciosas, negócios, arte, engenharia de avião e o valor que a família tem pra ele. Mesmo com todos os problemas que estava passando (estava a caminho do velório do seu sobrinho de 23 anos que havia se suicidado) demos boas risadas e trocamos ideias. Os conselhos que ele me deu me ajudaram de uma forma que ele não tem nem noção. Do mesmo jeito que eu também dei conselhos e soube ouvir aquele moleque que paguei o almoço e ele talvez nunca fosse ter uma conversa franca com um parente, amigo ou pai. O exercício de altruísmo e empatia nos trazem coisas impagáveis e nos faz enxergar, além da bondade nas pessoas, sensibilidade e carisma. Coisas que vem me motivando a acreditar ainda mais que temos um papel (coletivo e individual) fundamental na construção de um mundo cada vez melhor.


Li em algum lugar que “Há mais felicidade em dar (tirar tempo para o outro / se importar / ajudar o outro / pensar no outro) do que em receber”. E essa deve ser uma coisa genuína, sem interesse, sem intenção. Você ajuda por puro prazer em fazer a diferença na vida de alguém, nem que seja uma pequena atitude, uma palavra. O importante é que você foi o agente de mudança naquele momento, e resolvendo uma fatia dos problemas dos outros ganhamos força para resolver os nossos problemas também. Não digo que é obrigação de alguém numa condição melhor ajudar o outro, porém se queremos um mundo melhor, é extremamente necessário voltarmos nossos olhos aos desamparados. Também não digo que isso vá resolver todos seus problemas ou suas angústias, mas com certeza vai te ajudar a quebrar paradigmas. E quando vemos o mundo de forma diferente, nosso mundo realmente fica diferente.  

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