sábado, 15 de dezembro de 2012

Perdida


E ali estava ela, perdida, gritando em plena estação Tatuapé, eram 15 horas da tarde, chovia muito nesse dia 14 de dezembro de 2012, faltando poucos dias para o fim do mundo, mas não para aquela mulher. Seus urros surravam os ouvidos de todos os transeuntes, momentaneamente pasmos ao receber estrondosas pancadas sonoras, procurando suas crias como uma leoa a vagar pela floresta em busca dos filhotes, à espera de um socorro milagroso. Senti-me um verme por não saber ajudá-la, em frente aos portões do metrô alguns seguranças, pensei em avisá-los, mas nesse momento prontamente alguns guardas já estavam lhe acolhendo. O que mais me assustou foi notar o quão frágil é o ser humano, um momento, uma distração, gritos, desespero, socorro. E o pior, ver pessoas de mãos atadas, sem saber o que fazer, nem como fazer, e a mãe continuava a gritar insanamente o nome dos filhos de um lado para o outro. O dever me chamava, o trem estava chegando, e fui embora sem saber o desfecho final, ou o começo, de um drama. Talvez apenas mais um, vivido por uma família, uma mãe, dois filhos, entre milhares nesse Brasil. E se Deus existe mesmo, e tenho fé que sim, há de olhar por essas crianças e os devolver em perfeita saúde aos braços dessa mãe desesperada, inconformada coitada. E eu nem sei sei seu nome, mas pelo olhar só me veio uma palavra: perdida.

 
www.pessoasdesaparecidas.org/
 
 
 

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