domingo, 31 de maio de 2015

Do egoísmo e mediocridade existencial.

   Hoje eu tirei meia dúzia de pessoas da minha frente com uma mãozada só para sair do ônibus, quase caindo na calçada. Me senti espirrado pela multidão, mas eu poderia ter descido no próximo ponto, e caminhado só mais alguns segundos. Era perto. É, eu podia ter pensado mais nos outros. Afinal, empurrar 6 pra 1 descer é injusto. E quantas coisas piores que essa eu já não fiz esse ano? Quantas vezes já virei os olhos para alguém descalço na rua, sabendo que tenho 5 pares de tênis e só uso 2? Ou guardei metade daquele pacote de bolacha na mochila por uma semana até envelhecer, sem pensar em dividir com alguém?
   Minha alma às vezes chora e limpa as próprias lágrimas. Tanta gente que só precisaria de uma conversa aberta, um conselho sensato ou um abraço apertado. Pessoas rezando em templos, no aconchego espiritual, enquanto lá fora há uma criança perdida, se afogando no seu íntimo emocional enquanto o diabo diz que esse é o melhor caminho, e ela se deixa vencer na expectativa de um conforto qualquer, que Deus nenhum o proporcionou. E, eu sei da dureza do universo, que apesar do aumento de academias, estamos fracos e frágeis. As notícias já não nos abalam como antes, acontece algo ruim, e na outra tarde uma coisa pior. Só que essa dureza no coração, essa maldade, tem criado monstros. Somos a porra de um monstro, lutando diariamente contra os outros, e você mesmo, buscando status, comida, sexo, atenção, e uma merda de conforto. Deixando todo senso de coletividade de lado. Fodam-se os outros!
   Todos ligaram o foda-se, a ponto de dizer que vivemos em uma sociedade conectada e ao mesmo tempo  muito individualista, contaminada por uma doença chamada ignorância. Temos muita coisa boa, mas existe várias erradas e elas estão escancaradas na nossa cara. Tolos colocam a culpa no PT, outros culpam o PSDB, mas não votam no PV, por quê o PV tem maconheiro, logo se incluem todos os maconheiros num partido só, todos os corruptos no PT e todos que querem privatizar as estatais no PSDB, e por ai vai... Muitos anos se passaram, a nossa racionalidade parecia aumentar, e a literatura evidenciara períodos evolutivos significativos. Provavelmente os historiadores acreditaram que sairiam diamantes desse carvão pensante, e agora? E agora queimamos como um combustível no motor, denominados por uma elite dominante apenas como mão de obra, para obter coisas inúteis, e seguir caminhos traçados por alguém que imaginou um modelo certo a viver, uma forma de felicidade que só pode ser alcançada se por um longo tempo você for infeliz se sacrificando como escravo de alguém, tentando um dia ser o senhor de engenho ou um capanga que veste a camisa da empresa, lutando por uma missão criada para alienar mais e mais pessoas em troca de capital. Para morrer em vida, atentando contra os outros e a si mesmo. Não precisa ler Hamlet para descobrir que nessa solidão moderna, os loucos é que são normais. O normal é uma loucura coletiva. Esperamos que família, amigos, chefes ou o governo, inventem algo que nos impeça a fazer as coisas, para colocar a culpa em alguém, evitando falhar. Seguindo o que esperam de nós, a sanidade.
   A vida, meu velho, é um jogo que você já entra perdendo e vencer é nossa ilusão, para justificar a passagem, para os outros, para Deus e você mesmo. Tentando um lugar num céu, que nem sabemos se existe. Não dá para dizer que venceu na vida e fechar os olhos com tudo que está passando lá fora, logo ansiamos por momentos felizes e passageiros a fim de suprir essa necessidade de conforto momentâneo. Disse o velho professor da vida: _Procure saber quem você é, pare de esperar nos outros, respostas de perguntas nunca respondidas por si mesmo. E quem parou alguma vez para fazer um prognóstico na sua vida, provavelmente continuará firme quando as coisas estiverem dando certo, ou mesmo quando algo estiver errado. O diabo parece ter receio em entrar na mente de quem tem controle da sua direção. Quem descobre suas verdades, para de  mentir pros outros e pra si mesmo. Eu que nunca tive rumo certo, fico em paz, ciente da minha ignorância e feliz com meu humilde aprendizado, tento não atropelar ninguém e quando posso, salvar o mundo ao meu alcance. Entre a loucura e a sanidade, a tristeza e a felicidade, estamos todos por um triz. 

2 comentários:

  1. Infelizmente somos assim, nos fechamos tanto no nosso "mundinho" e na maioria das vezes preferimos jogar a culpa no próximo por ser mais cômodo e fácil. Continue compartilhando seus pensamentos são muito interessantes e nos fazem refletir.

    PS: Não nos conhecemos mas sou sua prima, hahaha. Admiro muito seu blog :-)

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    1. A transferência da culpa é uma forma de justificar porque não fazemos o que de fato queremos fazer. Culpar a sociedade é um meio que procuramos pra não nos sentirmos medíocres. Isso é o que chamo de vazio existencial.

      Bacana que você acompanha e que ganhei uma prima. Volte sempre :)

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