quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Moça da Tv

Hoje eu chorei em frente à TV, mesmo tão acostumado com as más notícias, com as injustiças e desenganos mundanos que passam diariamente. Chorei, pois vi um pai de família sendo comunicado pela polícia de um incidente com sua amada esposa, que havia concebido seu único filho há pelo menos um ano. Uma esposa que estava voltando pra casa no meio da tarde, e de repente é assassinada por alguém que a ameaçou com um bilhete uma semana antes. Chorei pela mulher, pelo bebê, mas principalmente pelo marido que estava trabalhando no momento, esperando chegar em casa e ser recebido pela família após um dia cansativo que todos nós temos que aguentar. Chorei por não existir consolo algum, além do tempo, imaginando quanto tempo é preciso pra cicatrizar aquela ferida. Não a ferida no meio da cabeça da mulher que estava a sangrar e estiraçada no chão da sua própria rua - tão breve e tão cruel forma de morrer - e sim da ferida no coração dos familiares e amigos que a conheciam e hoje não pode lhe dar um abraço ou um beijo de despedida. Hoje no almoço só teve saudade e solidão, todos reunidos numa sala, com a nossa senhora fora do altar, embrulhada e entregue numa caixa grande e amadeirada sem laço de cetim. O presente parecia não ter remetente além do céu para os cristãos de boa fé. Para outros, nada mais que um corpo em decomposição no solo e para o governo, mais um número nas estatísticas de óbito. Tirando isso, só restou uma enxurrada de lágrimas e lamentações, alguns causos e recordações que provavelmente se estenderão entre o circulo de entes queridos e conhecidos da moribunda nos dias seguintes e para os familiares, uma vida inteira de angústia e inconformidade. Então, lembrei de uma cena onde um leão saiu pra caçar e quando voltou encontrou a leoa morta, e o pequeno leãozinho desamparado. Enfurecido, pensou em sair pela selva em busca do assassino, subitamente lhe incorreu que se não mantivesse a calma deixaria o pobre filho sozinho na selva, à merce dos predadores e isso não há como evitar. Logo ele, o tão admirado e idolatrado leão, se viu impotente e frágil como todos os outros animais. Porém, é preciso olhar pra frente, sabendo que em determinados momentos nada é mais importante do que o que realmente importa para nós. Se hoje quando esse homem colocou os pés pra fora de casa soubesse que sua esposa iria falecer, tudo seria diferente. E o pior de tudo, é que todo dia ao acordar já sabemos que vamos morrer, somente ignoramos o fato até que ocorra algo que nos abale. E imaginar isso é triste, assim como é triste não fazer valer a pena viver. O que me remeteu à seguinte frase, do filme Escola da vida: “É preciso menos que a morte para matar um homem”. Ao final da reportagem, olhei pros lados e vi que na maioria das situações dessa vida, ou seguramos nossas próprias lágrimas, lavamos o rosto e seguimos em frente, ou simplesmente nos afogamos em prantos e nos torturamos com a melancolia cotidiana de “amorrecer” dia após dia, vida após vida. Então, desliguei a Tv, e mesmo com todos esses animais soltos lá fora, sai de casa e fui fazer valer a pena viver. Subitamente, a canção do Criolo se tornou onipresente, "As pessoas não são más, elas só estão perdidas, ainda há tempo... ♫ "

Link da música aqui: Ainda há tempo - Criolo

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